quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A Rua

Minha visão passa despercebida e só consigo enxergar a pobre rua escura em meio ao tempo com suas linhas brancas e amarelas, seus tracejados finos e ásperos, suas lombadas duras, altas ou fundas a esbarrar no fundo dos veículos circulantes.
Passo os dias olhando, um após o outro, intinerantemente.
É mais uma noite, sigo calmamente o meu destino, vislumbrando a pista com suas vozes mudas sim...bólicas. Cada uma falando em minha visão como devia proceder em meio a escuridão, linhas brancas contínuas nas laterais externas e amarelas pontilhadas internamente, vez por outra placas surdas aparentes ou não, tentam informar-me o que devo atentar. O tempo passa e a noite faz-me lembrar das oportunidades ofertadas a meus pensamentos durante todo o tempo decorrido de minha andança. As vezes sou surpreendido por grandes clarões brancos a frente, que na maioria chegam a ofuscar meus olhos.
Após tantas e tantas horas ininterruptas de meu deslocamento, a mente totalmente fechada a tudo que rodeava meu ser, sentia-me totalmente nulo em detrimento de minhas expectativas, minha simplória visão cansada de enxergar sempre o velho pinche pintado de branco e amarelo, deixava-me cada vez mais cansado, e por vezes o piscar dos olhos era mais demorado. Forçava-me o olhar, mas atento na rua para não perder o foco do deslocamento de mim próprio. De repente comecei a ver quase que sem querer um novo horizonte acima de minha cabeça. Via com clareza as pequenas luzes brilhantes em meio a escuridão daquele momento noturno, não se fazia, mas necessário tanto esforço para dirimir meus olhares, tudo estava mas facilitado, fixava-me num céu tão estrelado e límpido que mal se fazia necessário os faróis dos carros para iluminar a agora doce floresta em meu redor. Conseguia calmamente entender todo deslumbramento do orvalho a cair paulatinamente em meu para brisas, era o excesso de suas gotículas a molhar o vidro transparente de minha vida proporcionando o pensamento sensato de minhas escolhas.
A noite passou com tranquilidade. A partir desse momento conseguia concatenar com mais prudência todas as minhas decisões, analisava com mais atenção às tomadas e retomadas de aceleração de meus destinos e não esquecia mais a origem de todos os meus dilemas, anseios e sonhos retóricos. Passei a ver com mais tranquilidade as coisas, comecei a enxergar o verde das árvores a passarem ora ao meu lado ora em meu redor, não via o asfalto como um medo a ser vencido, via agora como meu aliado, aquele que me ajuda na busca de meu destino.
O dia amanheceu calmo, o brilho incessante do sol clareava as colinas que agora via em meio à serração. Abri a janela do carro para sentir o ar fresco circular em meu corpo, o vento forte devido a velocidade tocava minha pele e o frio gelado trocava o calor do meu ser. A solidão daquele momento era benéfica, sentia que tudo que existia não importava, pois estava completamente pleno em meus poucos pensamentos. A vida passava em meio a inúmeras turbulências, mesmo assim sentia-me completamente livre e tranquilo, sabedor e mantenedor de todas as vontades de minhas poucas vontades sentidas na minha pequena esfera vivente.
Neste momento a pequena rua parecia pra mim exatamente da forma já descrita. Sinto-me cansado devido tanta imaginação. Paro. Olho para os lados e sinto realmente um frio absurdo a me rodear, então seguro as rodas de meu carro com minhas mãos pequenas e o desloco em direção a minha casa. Subo a rampa, entro, fecho a porta e volto a admirar o vento frio a soprar a rua de terra vermelha, com suas pedras soltas e a poeira torpe a se misturar com o forte vento durante essa minha manhã imaginária.
Recosto-me ao banco de meu carro e adormeço para quem sabe noutro dia começar a imaginar tudo de novo.

Um comentário:

  1. Olá... tudo bem??
    Adorei esse texto achei super peculiar e cheio de contexto. Eu tenho um blog que tem uma coluna que se chama Suas escrituras e lá eu posto textos, poemas e pensamentos e resolvi colocar o seu texto e vou colocar todos os créditos tá.... se quiser passar por lá e conferir vou deixar o endereço aqui em baixo... Xero!!!

    http://minhasescriturasdih.blogspot.com.br/

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