quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Rios Beirinhos



Rios que sombream o horizonte
Emudecem o homem que nada
Alimenta o homem que pesca
Encantando o homem que sonha.

Igarapés que são as ruas da história
Inundam as várzeas
Alimentando os pescadores...
Encantando os sonhadores.

Margens irraizadas de esperança
Que consomem os tolos
Que emudecem homens
Que amadurecem seres
Que convocam tempos
Que iludem templos
Que secam a maré
Que inundam os olhos
Que trazem dos sonhos
O que dizem da vida…

Rios que sombream o horizonte
Protegem os navegantes
E a história dos cabanos
Que amadurecem os Rios Beirinhos.

A Rua

Minha visão passa despercebida e só consigo enxergar a pobre rua escura em meio ao tempo com suas linhas brancas e amarelas, seus tracejados finos e ásperos, suas lombadas duras, altas ou fundas a esbarrar no fundo dos veículos circulantes.
Passo os dias olhando, um após o outro, intinerantemente.
É mais uma noite, sigo calmamente o meu destino, vislumbrando a pista com suas vozes mudas sim...bólicas. Cada uma falando em minha visão como devia proceder em meio a escuridão, linhas brancas contínuas nas laterais externas e amarelas pontilhadas internamente, vez por outra placas surdas aparentes ou não, tentam informar-me o que devo atentar. O tempo passa e a noite faz-me lembrar das oportunidades ofertadas a meus pensamentos durante todo o tempo decorrido de minha andança. As vezes sou surpreendido por grandes clarões brancos a frente, que na maioria chegam a ofuscar meus olhos.
Após tantas e tantas horas ininterruptas de meu deslocamento, a mente totalmente fechada a tudo que rodeava meu ser, sentia-me totalmente nulo em detrimento de minhas expectativas, minha simplória visão cansada de enxergar sempre o velho pinche pintado de branco e amarelo, deixava-me cada vez mais cansado, e por vezes o piscar dos olhos era mais demorado. Forçava-me o olhar, mas atento na rua para não perder o foco do deslocamento de mim próprio. De repente comecei a ver quase que sem querer um novo horizonte acima de minha cabeça. Via com clareza as pequenas luzes brilhantes em meio a escuridão daquele momento noturno, não se fazia, mas necessário tanto esforço para dirimir meus olhares, tudo estava mas facilitado, fixava-me num céu tão estrelado e límpido que mal se fazia necessário os faróis dos carros para iluminar a agora doce floresta em meu redor. Conseguia calmamente entender todo deslumbramento do orvalho a cair paulatinamente em meu para brisas, era o excesso de suas gotículas a molhar o vidro transparente de minha vida proporcionando o pensamento sensato de minhas escolhas.
A noite passou com tranquilidade. A partir desse momento conseguia concatenar com mais prudência todas as minhas decisões, analisava com mais atenção às tomadas e retomadas de aceleração de meus destinos e não esquecia mais a origem de todos os meus dilemas, anseios e sonhos retóricos. Passei a ver com mais tranquilidade as coisas, comecei a enxergar o verde das árvores a passarem ora ao meu lado ora em meu redor, não via o asfalto como um medo a ser vencido, via agora como meu aliado, aquele que me ajuda na busca de meu destino.
O dia amanheceu calmo, o brilho incessante do sol clareava as colinas que agora via em meio à serração. Abri a janela do carro para sentir o ar fresco circular em meu corpo, o vento forte devido a velocidade tocava minha pele e o frio gelado trocava o calor do meu ser. A solidão daquele momento era benéfica, sentia que tudo que existia não importava, pois estava completamente pleno em meus poucos pensamentos. A vida passava em meio a inúmeras turbulências, mesmo assim sentia-me completamente livre e tranquilo, sabedor e mantenedor de todas as vontades de minhas poucas vontades sentidas na minha pequena esfera vivente.
Neste momento a pequena rua parecia pra mim exatamente da forma já descrita. Sinto-me cansado devido tanta imaginação. Paro. Olho para os lados e sinto realmente um frio absurdo a me rodear, então seguro as rodas de meu carro com minhas mãos pequenas e o desloco em direção a minha casa. Subo a rampa, entro, fecho a porta e volto a admirar o vento frio a soprar a rua de terra vermelha, com suas pedras soltas e a poeira torpe a se misturar com o forte vento durante essa minha manhã imaginária.
Recosto-me ao banco de meu carro e adormeço para quem sabe noutro dia começar a imaginar tudo de novo.

O HOMEM E A PENA



O homem senta
O pensamento chega
Pega a pena e escreve…

A fala do homem que chega
O pensamento que assenta
O que a pena inscreve…
...
O pensamento do homem falha
Quando a pena seca
E este espera…

A nova tinta
Para a bela pena
De bico doirado…

Enquanto aguarda
Prepara o enriquecer de seu sonho.

O tempo passa
O dia avança
E ele a espera da pena
Seca e suja
Que não mais umidece
Escreve
Inscreve
O pensamento são do homem.

Que chega
Que senta
Que lembra…

Que a pena vazia
Apenas marca
O seu espaço no velho papel virgem.